Desde que perderam um bebê, o que Hanna (Hani Furstenberg) e seu marido Benjamin (Ishai Golan) mais querem é tentar ter outro filho. Para tal, ela conta com a fé que tem em Deus, e por isso estuda diariamente a Torá, mesmo que na comunidade aonde viva essa prática seja restrita aos homens.
Quando uma epidemia assola a região e a culpa recai imediatamente sobre os judeus, Hanna tenta usar de seu misticismo para convocar um golem, sem saber que a criatura é muito mais perigosa do que pensa.
A criatura artificial conhecida como “golem” talvez seja o exemplo mais icônico da mitologia judaica. Descrito como um ser artificial feito de argila ou pedra, seu nome vem da palavra hebraica gelem, ou “matéria-prima”.
Criados a partir de matéria orgânica como os humanos foram criados por Deus, a imitação da criação divina tem como história mais famosa A Lenda do Golem de Praga, que narra o rabino Judá Loew ben Betzalel invocando a criatura para proteger o gueto judaico de Praga contra ataques anti-semitas.
Escrito por Ariel Cohen e dirigido por Doron e Yoav Paz O Golem(2019) é um filme muito envolvente. A cinematografia de Rotem Yaron é excelente, usando sombras para um efeito muito arrepiante enquanto destaca o design impressionante.
A história tem uma forte carga dramática, mergulha no folclore e nas tradições judaicas, aborda temas como perda, luto, preconceito, maternidade, vingança e redenção. Mas também faz surpresas para os fãs do cinema de terror com uma boa dose de suspense e violência.
A produção israelense de língua inglesa foi muito feliz ao atentar para os detalhes sendo muito bem cuidada. Cenários, figurino, fotografia e efeitos especiais funcionam em harmonia para proporcionar uma experiência imersiva.
O Golem, em si, revela-se um personagem bastante complexo. Mesmo com aparência de criança, possui força superior à de muitos adultos. Criado para ser um protetor, ele também pode se tornar agressor.
Apesar de ser aparentemente controlável, porque corresponde à criação da mãe Hanna, logo foge às ordens desta. O público é situado diante de um enigma: de que lado, afinal, está a criatura? Seu comportamento errático, retira a motivação maligna para aproximá-lo de uma fera, uma entidade animalesca agindo sem propósito definido.
Ele representa, afinal, o ápice da “falta de conhecimento” destes seres humanos brutos e mesquinhos. Nada mais é do que um exagero das qualidades e dos defeitos humanos, ao limite do grotesco.
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